sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Lautrec contava-me, empolgadíssimo, como dançava La Goule quando notei à frente do passeio que percorríamos, no parque Pere Foret, algo que se singularizava nas folhas que cobriam o chão.

O pouco sol que ainda havia no céu de Montmartre fez com que um brilho refletisse do objeto.
Lautrec não parava de falar, falava para si mesmo em voz alta, já não se importava se eu tinha minha atenção voltada a ele, simplesmente discorria sobre o Cancan de Louise.

Retive-me e, com a ponta do sapato, chutei as folhas secas, tentando trazer à tona o objeto brilhante. Quando se abriram um pouco, pude ver uma pequena fotografia.

Henri estancou seus passos. Quando se virou, me viu cheio de livros, telas, pincéis e palhetas no colo e com o olhar voltado para o espaço em meio às folhas mortas, no chão.

Quando fui, vagarosamente, abaixando-me em direção ao objeto, Lautrec, em um movimento rápido e curto, com sua bengala, espalhou as folhas para os lados, expondo a fotografia por completo.

"Pronto, meu rapaz, é por esse papel que tens interesse? Pegue-o e vamos! Temos que fazer o cartaz de Jane!". E pôs-se a andar em seus pequenos passos, movimentando a cabeça de forma a reprovar minha atitude.

Rapidamente pus tudo ao chão e peguei a foto. O papel, já amassado e com a gelatina fotográfica rachada, expunha sinais de haver sofrido com intempéries.

A foto registrava dois lindos seios desfraldando-se de um corpete. Um pingente estava entre os lindos seios, de mamilos salientes, e dezenas de pintinhas cobriam seu colo e ombros.
Via-se parte do braço da dona dos seios.
Ela tinha a mão calçada com uma luva.
Não se podia ver o outro braço.
As grossas fitas desembaraçadas do corpete pousavam-se sobre o vestido que a dama usava. Ela estava sentada sobre uma cama desfeita.

Olhando com atenção a foto percebia-se que os seios eram de formação perfeita! Lindos e rígido! Eram jovens e vivos! Me hipnotizaram por alguns segundos, tentava sentir a textura dos seios com os olhos.

No anverso da fotografia, em sépia, havia escrito, com uma linda grafia feminina, um trecho de poema/declaração de amor:

“Com meu corpo desnudo e com alma impura
provo teu cálice,
sinto o néctar que surge
a transbordar em minha boca.
Minha sede não consigo controlar
Entrego-me como oferenda."


De sua eterna querida,
Elizabeth Weber


A foto e o poema... aqueles seios se entregando com prova de amor... me colocaram em um estado de transe. O tempo se tornou estático enquanto eu pensava em quem perdeu tal foto e em quem faria tal declaração de amor. Quem seria o dono da fotografia, quem seria Elizabeth Weber?


Só voltei para o Pere Foret quando senti as bengaladas de Henri em meus ombros.

"Vamos, vamos! No Moulin Rouge verás maiores e ao vivo! Agora, vamos, meu rapaz!”

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